domingo, 8 de maio de 2011

louco.

“ Um psiquiatra não se aguentou..Vendo um chefe de polícia completamente perdido depois de uma conversa com um morador de rua, malvestido, que acabara de salvar a vida de um quase suicida que quase se jogara de um prédio; procurou constranger o forasteiro. Certamente pensava que suas idéias puxariam o tapete dele, revelariam sua insegurança. Com astúcia psicológica, afirmou:
- quem não revela sua identidade esconde sua fragilidade.
- você acha que sou frágil? – Indagou o forasteiro.
- não sei – reagiu o psiquiatra, titubeando.
- pois você está correto, sou frágil. Tenho aprendido que ninguém é digno de ser uma autoridade, inclusive cientifica se não reconhece seus limites e suas fragilidades. Você é frágil? – metralhou.
- Bem...
Vendo-o hesitar, continuou a indagar-lhe:
- Qual a linha terapêutica que você segue?
- Sou freudiano.
- Muito bem. Então me responda: o que é mais complexo, uma teoria psicológica, seja ela qual for, ou a mente de um ser humano?
O psiquiatra temendo uma armadilha ficou sem responder por um momento. Em seguida, não respondeu diretamente:
- Usamos as teorias para decifrar a mente humana.
- Por favor, deixe-me propor mais uma questão: você pode mapear uma teoria, esgotar sua leitura, mas poderá esgotar a compreensão da mente humana?
- Não. Mas eu não estou aqui para ser indagado por você – disse com desdém, sem entender aonde o estranho queria chegar. – E muito menos eu, que sou um perito em mente humana.
Vendo sua arrogância o estranho lhe deu o golpe fatal:
- os profissionais da saúde mental são poetas da existência, tem uma missão esplêndida, mas jamais podem colocar um paciente dentro de um texto teórico, e sim um texto dentro do paciente. Não enquadre excessivamente seus pacientes dentro dos muros de uma teoria, caso contrário reduzirá suas dimensões. Cada doença pertence a um doente. Cada doente tem uma mente. Cada mente é um universo infinito.
Entendi o recado que passará pro psiquiatra, pois senti na própria pele o que queria dizer. Quando o psiquiatra aborda um paciente, ele usa técnicas e interpretações.  Pode tratar do ato suicida, mas não do ser humano dilacerado que estaria dentro de mesmo. Suas teorias poderiam ser úteis em situações previsíveis, em especial quando o paciente procura ajuda espontânea, mas não em situações em que é resistente ou perdeu a esperança. Um suicida fica resistente, precisa primeira do ser humano psiquiatra e depois do profissional do psiquiatra. Como o psiquiatra aborda diretamente, você sente ele como invasor, o suicida se recolhe dentro de si, entra num cofre.
O morador de rua, vulgo Vendedor de Sonhos fez o caminho inverso ao salvar o quase suicida. Começo com um sanduíche: invadiu sua psique com penetrantes questionamentos, como um nutriente que invade a corrente sanguínea e estimula as células. No segundo momento, tratou do ato suicida.
O psiquiatra. Embora tenha sido chamado de poeta da existência, não gostou de ser questionado por um desconhecido malvestido e sem currículo.
Nessa altura, o Vendedor de Sonhos tocou o ombro de um jovem chefe de bombeiros e disse-lhe:
- Parabéns, meu filho, pelos riscos que tem corrido por pessoas que desconhece. Você é um vendedor de sonhos.
Após essas palavras, deu alguns passos na direção da porta do elevador. O psiquiatra olhou para o chefe da polícia e deixou ganhar sonoridade um pensamento, sem que, obviamente, o vendedor de sonhos ouvisse. Mas o homem malvestido voltou-se para eles e repetiu o pensamento simultaneamente com o psiquiatra.
- Os loucos se entendem!
O psiquiatra ficou vermelho com a sua reação. Assim como eu, deve ter se perguntado: “como esse estranho conseguiu repetir ao mesmo tempo o pensamento que proferi?”
Vendo-o embasbacado, ainda teve tempo de falar sua última e inesquecível lição n topo do edifício. Comentou com o psiquiatra:
- Uns tem uma loucura visível e outros, oculta. Que tipo de loucura vc tem?
- Eu não. Eu sou normal! – reagiu impulsivamente o profissional de saúde mental. Enquanto isso, o vendedor de sonhos admitiu:
- Pois a minha é visível.
Em seguida, deu as costas e começou a caminhar com as mãos nos meus ombros. Três passos adiante, olhou para o alto e expressou:
- Deus, livra-me dos “normais””


- Fonte de reflexão. O que vc julga normal e louco? Sua loucura é visível ou oculta? Você tem consciência que dentro de vc existe uma loucura? – PENSE NISSO.

(“O Vendedor de Sonhos – O Chamado” – Augusto Cury)

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